“SE NÃO FOR JUNTO AO MAR...”, UM POEMA INÉDITO DE LASANA LUKATA
"se não for junto ao mar..."sempre estou a dizer poemas ao redor do oceanoe talvez se diga, ele não sabe escreverse não for junto ao marcomo o terrófago Anteu que pede chão,mas a insaciável sede tem de ser atingida,que se afasta se me aproximo e fica o limode uma escorregadia esperança sobre pedras,um tapete de verdes incertezas,é Tântalo sofrendo, tudo à frentee tudo o abandona, tudo se evaporaentre a fáretra e o féretro,o vento impede a volta ao porto,entanto, ao nível do naufrágio,caí em poder do forte vento sul,em grandes ondas, a maré no seu ponto mais alto,insurfável, o mar sacudiu, me fez marear,mas me deu uma casa, vestiu, alimentou,e das ondas quebradas saíram versos;Atlântico, pai e padrasto mar que tantaliza,transfigura e transforma;que emerge e naufragae nos envia os destroços;que escreve e apagao que as garças-da-lua criaram à noitee por baixo das espumas, ressonâncias...o mar moldou meus poemascom variedades de peixes.há quem analise o poemacomo quem esquarteja baleia;desde o barquinho Plutãoao cargueiro Netuno,há navios de diversos caladose versos de abundantes medidas.o mar em sua vocação natural para a poesia,a palavra já chega bêbadae é mais fácil levá-la ao poema,e quando acordar já não vê o cais,a hemorragia de flamboyants,o vitiligo dos paus-ferroso espaço vazio da árvore que enfartoue nada restitui,tudo se afasta.
Lasana Lukata é poeta por usucapião, nascido, criado e sofrido em São João de Meriti, o Formigueiro das Américas, tendo publicado recentemente os livros: A Madrasta de Pedra e A garça finge sua brancura, editora Autografia. A garça é sua professora de esgrima e ele mesmo diz: meus olhos são dois cavalos rebeldes, que de repente disparam pra longe e regressam com as patas sujas de versos.
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