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O artista é um criador de silêncios e de nadas [Janne Alves de Souza]

O artista é um criador de silêncios e de nadas.

Me farta a limitação humana. A arte tem que nos fazer ir além da nossa limitação, senão não terá propósito nem sentido. Aquele que cria, cada vez mais tenho pensado, não pode deixar de entrar dentro da água por que isso é impensável, porque é impossível. É justamente para isso que temos a arte. Mas a água não tem dentro, nem fora! Pois, crie! Dê-lhe espaço, dimensão, forma, cor, cheiro, som. Começo a não ver sentido em certas limitações. Há gente que se diz artista e não conhece o propósito da arte. Já não engulo os que dizem "eu não sei o que é arte e nem para quê serve", querendo parecer demasiado inteligentes. Não o são! Se não sabem o que é, nem para quê serve, como sabem que a fazem? Como sabem que fazem arte?

Artista não dá para descrever, conceituar. Mas é aquele que sente de um modo arrebatador um ímpeto por fazer arte, de modo que ele não consegue não fazer arte, não consegue não ser artista. Porque é como se não ser artista o ferisse mortalmente e ele seria então qualquer coisa quase-morta que só tem ainda fôlego de vida porque esse desejo ardente que o fere como na carne o mantém vivo. Artista é aquele cuja pele - pele é o que o artista é - é sensível de tal forma que qualquer coisa o pode ferir e, ferindo-o, desperta o ímpeto por fazer arte. Arte não dá para descrever. Mas é aquilo que expõe a ferida do criador, que fende sua pele de forma que através da ferida se vê aquilo que despertou a sensibilidade do artista, aquilo que o feriu. 

A arte é a liberdade plena. A liberdade criada. O impossível impede-nos de ser completamente, e de ser livres. Ser livre é uma utopia. Fazer arte é ser livre. É criar o nada. É, não tornar o impossível possível, mas experimentá-lo. É ser Deus. Deus é silêncio. Eu é silêncio. Eu me encontro com Deus no silêncio. Eu me encontro no silêncio. Porque eu participo da existência divina. Todo ser humano é destinado a ser Deus. A arte é silenciosa. Qualquer expressão do eu que não seja o silêncio, por que o silêncio é a ausência de expressão - porque é anterior -, é corrompida - porque é passível de interpretação. Só o silêncio é verdade. O silêncio não é significável. Porque na sua eterna mudez significa todas as coisas, todos os tempos. Silêncio é nada. Não existe nada maior, mais abundante que o nada - porque o nada, pela sua negação, é tudo. O artista é um criador de silêncios e de nadas.  

Janne Alves de Souza - Publicitária, bacharela em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda pela PUC-SP. Pesquisadora intercambista no Curso de Licenciatura em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal) com bolsa do Programa Fórmula Santander de Mobilidade Estudantil. Artista plástica, desenhista e fotógrafa amadora. Escreve para o site Obvious Lounge no blog: Megalomaníaca (http://lounge.obviousmag.org/megalomaniaca).

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