Eu amo/odeio isso! – Um
diálogo sobre pessoas que amam ou odeiam tudo sem embasamento
por Frederico Mattos
O Facebook não inventou o
botão curtir, ele só se aproveitou do condicionamento que temos de utilizar um
raciocínio pouco desafiador e propenso a rótulos, para dividir as impressões
entre coisas que apreciamos ou repelimos.
Antes da 1980 – ano que
nasci – havia uma tendência mais sisuda dos pais ao não perguntar se o filho
gostava ou não de agrião. Pois, o que tinha na mesa o filho deveria comer sem
reclamar ou fazer cara de nojo. Se de um lado isso poderia parecer uma tirania,
de outro fez muitas pessoas saírem da sua zona de conforto gastronômica e
experimentar comidas que nunca teriam experimentado caso fossem guiados pelo
seu nojinho.
O fato é que sou de uma
geração pós-ditadura e parte desse processo psicológico coletivo foi abrir a
porteira, sem censura. Politicamente acho incrível, mas na vida pessoal sei que
faço parte de uma geração de gente muito mimada que mal olha o que tem no prato
– e na vida – e logo emite uma opinião tão contundente que parece que fez PhD
em Harvard.
Há uma tendência que vem
se solidificando de uma classificação binária que inclui suas predileções como
as coisas mais importantes da sua vida inteira (até que o sol se ponha) e suas
repulsas como as coisas mais detestáveis e desprezíveis do mundo (até o amigão
e a figura pop dizer que gosta daquilo e tudo mudar).
Isso é temerário, parece
que de um lado existem fãs malucas dos Justin Bieber espalhadas pela internet
declarando coisas profundas como “você é a coisa/texto/pessoa mais importante
da minha vida!” para quase tudo. E se perguntada a pessoa não consegue explicar
exatamente do que gostou, se pensou de fato sobre aquilo ou se a tocou de um
jeito que fez a cabeça mudar de verdade. Ela é uma metralhadora de curtir
coisas impensadamente sendo apenas guiada por uma sensação gostosinha ou odiosa
sem muito embasamento.
Como nossa mente se
acostumou com frases curtas de Facebook ou Twitadas de 140 caracteres, tudo que
exige pensar um pouco mais parece repulsivo. Se não surge um orgasmo mental
súbito não serve. Isso soa como ejaculação precoce, tudo tem que ser fast-gozo.
Parte das tantas coisas
que se aprende quando a maturidade emocional vem (não necessariamente com a
idade) é que a degustação da vida é que permite que alguém se sinta saciado de
verdade. Você poderá passar o tempo zapeando o mouse em busca de mais uma
epifania emocional e consumirá 30 coisas na sua aba do navegador, mas se
apreciasse uma só com dedicação estaria mais plena e saciada.
Talvez seu receio é que se
parar com essa correria emocional sentirá um aperto no peito e uma fome
existencial significativa. Encarar esse vazio dá medo, eu sei. Construir uma
vida com significado quando você sempre se sente com treze anos dá medo, eu
sei. Mas mesmo com medo você não poderá continuar fingindo que o mundo/as
opiniões/as pessoas são divididas entre gosto/não gosto. O mundo é mais que
curto/não curto isso ou aquilo, e assim, vale a pena se explicar um pouco mais
quando se trata de gostar de algo, sem monossilabismos afetados do tipo “que
incrível!!!” – “amo ele!!!!”.
Sei que todos nós
conseguimos muito mais que gritinhos agudos e apaixonados ou resmungos mau
humorados cheios de “propriedade”. Então, aproveite e passe nos comentários que
fez em outros texto por aqui e também veja que tipo de opinião deixou nas redes
sociais, talvez valha a reflexão.
Frederico Mattos - Sonhador nato, psicólogo
provocador, autor do livro "Como se libertar do ex". Adora contar e
ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, cultiva um jardim, lava
pratos, ama Juliana e escreve no blog Sobre a vida [www.sobreavida.com.br]. No
twitter é @fredmattos.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário
Postar um comentário