AS MULHERES POETAS NA
LITERATURA BRASILEIRA (13)
NEUZZA PINHEIRO (1949)
poeta paranaense, é cantora, compositora, integrou a banda Isca de Polícia, de
Itamar Assumpção, e interpretou músicas de Arrigo Barnabé em festivais de
televisão. Participou das antologias Outras Praias / Others Shores (1998) e 12
- Antologia de Poetas Londrinenses (2000). Publicou Pele &Osso,em 2011,
vencedor do Primeiro Prêmio Nacional de Literatura poeta Lúcio Lins(jan/2008).
Mereceu apreciação elogiosa de Augusto de Campos.
O poema não pede
não implora
vem comendo pelas bordas
esfolando a flor da pele
bebendo sangue de aurora
..............................................
O poema era um mutante
foi de estralo a estrela
de estrela
a instante
..............................................
Quando caio em mim
Caio tão
f
u
n
d
o
que nem dou
por mim
..................................
Te digo
Ao pé do olvido
Escuta bem
não esquece
Mulheres desmonalisam
Mesmo a golpes de mestre
...................................................
na tarde
a árvore
silêncio de aeronave
...................................
vá
neste pin
go que os
cila
entre
a torneira
e a
pia
um
breve
exer
cicio
de
melancolia
ANGÉLICA TORRES (1952)
poeta goiana, jornalista, escritora e editora. Trabalhou em vários jornais como
repórter de cultura. Fez pós-graduação em edição de publicações e livros, em
Madison, Wisconsin (EUA), em 1988. Publicou Sindicato de Estudantes (1986,Prêmio
Mário Quintana de Poesia, do Sindicato dos Escritores de Brasília), Solares
(1988), Paleolírica (1999), O Poema quer ser Útil (2006) e Luzidianas(2010)
Tomara que caia
um haikai
na sua saia
MEU CERRADO
Encho os olhos
de paisagens
do cerrado
Um espírito rendado
emana da floresta
de ikebanas goianas
A claridade rasgada
o plano exato:
geografia instantânea
O CAMINHO DA NOITE
Entregue a meus sonhos
despertos
o mundo nega-se a partir
comigo
ensurdecido no silêncio da
noite.
É toda feita de palavra
a espiral em que me movo.
Quebrarei o seu segredo.
Saltarei da última torre.
DESCONFIE
Não vás crer
tanto assim
num poeta
Vê a cota
ilusionista
que contém
o que ele conta
Ele é sempre
personagem
forasteiro
Experto
em camuflagem.
Um cigano
faz-de-conta.
JOSELY VIANNA BAPTISTA
(1957) Poeta curitibana formada em letras hispânicas, com especialização em
semiótica. Publicou os livros de poesia Ar (1991), Corpografia (1992) e Outro
(poema experimental em co-autoria com Arnaldo Antunes). Traduziu Cortázar, Carpentier,
Cabrera Infante e Lezama Lima, entre outros. Participou de antologias editadas
no México, Peru, Argentina, Estados Unidos, Cuba, França, Paraguai, Colômbia,
Espanha e Austrália.
R E F R A C T A
para vera e Milton
o segredo
do
a b r a ç o
e s t á
n a
g r aç a
d e
q u e m
f a z
o
a g r a d o
—
á g u a
r e c o r t a n d o
o n a d o
d e
u m
p e i x e
s e m
d e i x ar
r a s t r o
ONDE O CÉU
ENCONTRA A TERRA
o breu devore à noite
o próprio rasto;
no solo ocre, de rojo,
o escuro escureça,
noite tão noite
que se dobre em dia
os charcos zoem
outra vez insetos;
virem os regos
de lodo
em que chafurdo
– com o sol –
pó púrpuro,
ou longos rolos
que o vento
eleva e enovela
a prumo o solo fusque
a si mesmo,
e a tarde entardeça
num crepúsculo
bojo de sombras,
lusco-fusco de névoas
(frutos apodrecendo
na gamela)
I N F I N I T S
para nietzsche
e n t r e b é t u l a s e
n a d a s , n a d a s
e m a d r u g a d a s , b
e a t s , f a d a s , f
u g a s , á r i a s , e n
t r e g é l i d a s p
é t a l a s d e n e v e ,
l e v e s c r i s t a
i s l i m a n d o n i c h
t s d e f u m a ç a
, e n t r e p i c o s e a
b i s m o s , b é t
u l a s e n a d a s , l á
, o n d e o a r
f a l t a : a l i s u a f
a l h a l i m a l h a
, p o l i n d o t u d o e
u m i s s o : n o c
r e p ú s c u l o d o s í
d o l o s , d i v i n o
s i d o s ( a n d a r i l
h o e n t r e v e r d
a d e s e m e n t i r a s
) , à p r o c u r a
d a f l o r q u e b r o t
a , r a r a n a r
o c h a , e n t r e n e i
n s e p i s t i l o s
, a u r o r a , p e d r a
l a s c a d a : n a a
l t a e n g a d i n a v a
l q u í r i a s c a v
a l g a m l u a s q u e a
i n d a u i v a m
p a r a l o u s , e o v i
s i o n á r i o , n
o l i m i a r , p a r i n
d o c e n t a u r o s
RITA ALVES (1966) é
paulistana, historiadora, ensaísta, crítica de arte e literatura --e poeta.
Recebeu em 2010 o prêmio Literatura da Comunidade África Brasil pela publicação
do seu livro de poemas Tela de Letras. Na introdução, Rita adverte preferir as
palavras brutas, as palavras sem lapidação.Textualmente, confessa: “Procuro
palavras que completem os veios de esmeralda sob a profundidade do ser”.
AS PALAVRAS
Entre o pensamento e a
palavra
Entre palavra e o
sentimento
Há um enorme espaço
deserto
Plátano, oásis, miragem
Até que a mão chegue ao
caderno
Para libertar as palavras
Agarradas ao tinteiro
Leva uma vida e o mundo
inteiro
Paridas e ainda molhadas
Não se reconhecem nos pais
Tomam formas inesperadas
Em desespero se agitam
Presas às folhas,
condenadas
A serem postas à prova
Pelos olhos de quem as lê,
Não dizem o que são
São o que se vê.
POEMA PARA QUEM PARTE
Procuro em meu deserto
suprimentos básicos de sobrevivência.
Poemas bons, que saiam
pulando dos livros que me cercam,
palavras doces que se
calam sem sentença.
Amanheço e anoiteço
indiferente ao tempo
que me empurra ao
descontentamento.
Enquanto leio, ouço a
música dos ventos,
(Orquestra desarmônica dos
meus pensamentos).
Recuso ofertas de
aprisionamento
Aceito emblemas de
mistério em vôos ligeiros
Seguindo um caminho que é
só certo o que passou
Partidas que ficaram em
mim quase por inteiro
Nomes, lembranças,
sorrisos e questionamentos
Vou seguindo a sombra das
estrelas
Aguardando a lua cheia
refletir minhas tempestuosas letras.
POEMA PARA QUEM FICA
Entre as cortinas você
verá a cidade
As luzes noturnas da
circunferência de São Paulo
Sabe pisar a areia?
Conhece o caminho desigual
do deserto em que vivo?
Abra a porta dos armários
Cairão livros aos seus
pés.
Você, que tem a coragem de
ficar comigo
Abrace meus olhos antes
que anoiteça.
A manhã embaça o mapa do
caminho
Apaga com suor as
lembranças do destino.
Você que tem a certeza de
que pode permanecer
Estabeleça sua morada, que
o dia virá em festa
Carinho, conversa, vinho,
beijos
Confusas tramas que se
curvam à luz da lua.
A CASA, AS ROSAS
Arranquem as roseiras e
plantem daninhas
Substituam abelhas e
borboletas
por cigarras e formigas
E nas paredes da casa
Só palavras:
As mais sonoras
E independentes.
Rubens Jardim,
67 anos, jornalista e poeta. Foi redator chefe Gazeta da Lapa e
trabalhou no Diário Popular, Editora Abril e Gazeta Mercantil.
Participou de várias antologias e é autor de três livros de poemas:
ULTIMATUM (1966), ESPELHO RISCADO (1978)e CANTARES DA PAIXÃO (2008).
Promoveu e organizou o ANO JORGE DE LIMA em 1973, em comemoração aos 80
anos do nascimento do poeta, evento que contou com o apoio de Carlos
Drummond de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Raduan
Nassar e outras figuras importantes da literatura do Brasil. Organizou e
publicou JORGE, 8O ANOS - uma espécie de iniciação à parte menos
conhecida e divulgada da obra do poeta alagoano. Integrou o movimento
CATEQUESE POÉTICA, iniciado por Lindolf Bell em 1964, cujo lema era: o
lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os
lugares... Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília
(2008) com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional.
Fez também leituras no café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília. E
participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do
Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Teve poemas
publicados na plaquete Fora da Estante, (2012), coleção Poesia Viva, do
Centro Cultural São Paulo. Páginas na Internet: Site: Rubens Jardim e Facebook: Rubens Jardim
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