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8 compositores que você não conhece, mas marcaram sua vida (de um jeito meio estranho) [Vinício dos Santos]

8 compositores que você não conhece, mas marcaram sua vida (de um jeito meio estranho)


Por Vinício dos Santos 

Nós sabemos o poder que uma música, repetida a exaustão, pode fazer com nossas memórias - eu mesmo, quando escuto Fur Elise do Beethoven ou As Quatro Estações, de Vivaldi, penso, respectivamente, em bujão de gás e sabonete. Mas, enquanto a eternidade guardou um espacinho para o nome desses dois ao lado de suas criações, nem todos os compositores tiveram a mesma sorte, e suas obras viraram eternas, enquanto suas caras a gente nunca conheceu. Então, num esforço digno de um Que fim levou? de Milton Neves, o Puxa! foi descobrir mais sobre 8 compositores cujas obras marcaram nossas vidas (ainda que de um jeito meio estranho). 


8 David Rose


Quem é o cara? Americano, nascido em 1910, fez carreira na TV compondo trilhas sonoras para séries como Bonanza e Os Pioneiros, levou quatro Emmys de trilha para casa, além de cinco Grammys, e foi casado por um tempo com a Dorothy do Mágico do Oz, depois que o tornado a trouxe de volta.

E o que ele fez de tão legal assim? David Rose é o cara que compôs a música do Pião da Casa Própria. Aperte o play no video abaixo e, se parar no cinco ou no seis, você ganha a casa.

“Holiday for strings”, composta no começo dos anos 40, foi o primeiro hit de Rose, lhe dando inclusive um de seus Grammys e um disco de ouro – além de uma cacetada de regravações e inclusões em filmes. Não conseguimos descobrir como demônios Silvio Santos foi escolher essa música para tocar enquanto o pião roda, mas uma coisa é certa: aquele barulho do início, de trem saindo da estação – coisa da versão brasileira – foi gravada pelo Roque.

Quando eu escuto essa música, dá vontade de… sair rodando. E descobrir onde, nesse país, ainda se compra uma casa no valor de 40 mil reais.

7 Frank deVol


Quem é o cara? Também americano, nascido em 1911, nunca foi um compositor muito famoso nos states – apesar de ter conseguido cinco indicações ao Oscar de melhor trilha, uma delas por Adivinhe quem vem para jantar?, aquele filme em que a família não aceita que a filha se case com o Sidney Poitier por preconceito de ele ser professor. Espera aí, acho que confundi alguma coisa.

E o que ele fez de tão legal assim? Talvez não seja TÃO LEGAL assim, mas é dele a música de abertura do Jornal Nacional.

“The fuzz” é uma das músicas da trilha de “Acontece cada coisa” (The Happening), uma comédia bem bunda dos anos 60 sobre quatro ripongas que, sem querer, seqüestram um chefe da máfia que ninguém quer resgatar. A música ganhou outro arranjo na abertura do jornal, mas não deixa de ser curioso que a Globo abra um de seus telejornais há mais de 40 anos com uma música para hippies. Fico no aguardo de eles trocarem a abertura do Jornal da Globo por “Era de Aquário”, só para ver a cara do William Waack.

Quando eu escuto essa música, dá vontade de… dizer “boa noite”.

6 Enoch Light


Quem é o cara? Outro americano, violinista e engenheiro de som, nascido em 1905, um dos primeiros caras a realizar experimentações com música estéreo – o que se revelou uma inutilidade à época, porque as rádios AM eram mono. Já nos anos 60, com sua Light Orchestra, regravou composições dos Beatles, clássicos da discoteca e até tem um disco de Bossa Nova com arranjos experimentais, na época em que “atualizar música” não era sinônimo de “batidas eletrônicas”.

E o que esse cara fez de tão legal assim? Ele não fez, mas refez: uma releitura do tema de Star Wars, do John Williams. E o que tem de especial nisso? Amigos, é o tema de abertura do Aqui Agora.

“Theme from Star Wars” é uma das faixas de The Disco Disque, álbum de 1975, usada anos mais tarde pelo jornal argentino Nuevediario, já na década de 80. E como tio Silvio adora uma coisa com sangue latino, adotou a música como abertura do Aqui Agora, aquele jornal que, antes de começar, você precisava colocar um modess na TV, de tanto sangue que estava por vir.

Quando eu escuto essa música, dá vontade de… gesticular a mão feito o Gil Gomes e dizer no mesmo tom de voz “aqui, nesta rua, o meliante pulou o muro…”

5 Carlos Freitas 


Quem é esse cara? É um compositor e inventor brasileiro, na casa dos 60 anos, que tem um canal noyoutube com um único video, de 8 segundos.

E o que esse cara fez de tão legal assim? Compôs o alerta nacional de pobreza: o toque da chamada a cobrar. 

“Chamada a cobrar”, segundo informações dele mesmo , foi um trabalho para a Telepar, nos anos 70, pelo qual ele não recebeu nenhum centavo até hoje, mesmo que a composição dele seja a mais tocada do Brasil, ainda muito na frente do assovio do whatsapp. É injusto para chuchu que ele nunca tenha recebido nada pelo seu trabalho, ainda mais considerando o quanto sua música ajuda brasileiros, diariamente, a economizar uma grana recusando chamadas a cobrar feitas por gente sem crédito em celular. Agora, doloroso mesmo deve ser ver uma composição sua servir de sample para música da Kelly Key.

Quando eu escuto essa música, dá vontade de… desligar o telefone. Quer falar de graça, liga pro CVV.

4 Zé Menezes 

Quem é esse cara? Compositor e instrumentista brasileiro nascido no Ceará, nos anos 20, foi de rádio, maestro de orquestra e teve uma banda espetacular chamada “Os Velhinhos Transviados”, que fazia versões de qualquer música que aparecesse pela frente.

E o que esse cara fez de tão legal assim? O maior tema da zuera never ends desse país: a música de abertura dos Trapalhões. 

“Abertura dos Trapalhões” corria por fora como candidata a canção do programa, mas Boni, que mandava na Globo na época, gostou e ainda deu um emprego para Zé Menezes na emissora. Já se vão mais de quarenta anos e sempre que alguém escorrega, tropeça, dá com uma vassoura na cabeça de alguém ou toma quatro gols da Alemanha em seis minutos, é inevitável não escutar a musiquinha na cabeça.

Quando escuto essa música, dá vontade de… apertar o extintor e soltar fumaça para todo lado. Também dá vontade de ficar mais rico do que o resto do grupo que trabalha comigo.

3 Boris Fomin 

Quem é esse cara? Compositor russo, nascido no início do século XX, precisamente em 1900 – mas vocês sabem:“russo” e “início do século XX” não costuma dar muita sorte para as pessoas, e com Boris Fomin não foi diferente. Nos anos 20, ele obteve grande sucesso tocando para o exército vermelho e compondo canções típicas russas, até que o governo comunista resolveu que era música de burguês e botou Boris em cana. Um ano e meio depois ele foi solto – dizem que Stalin curtia seu batidão – e ajudou a animar as tropas russas durante a 2ª Guerra. Aí, depois da guerra ele foi preso OUTRA VEZ, pelo MESMO MOTIVO, e morreu de tuberculose ainda nos anos 40.

E o que esse cara fez de tão legal assim? Lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá la.

“Dorogoi Dlinnoyu”, composta em 1918 por Fomin, ficou famosa anos mais tarde, quando o popstar russo Alexander Vertinsky, com uma letra do poeta Konstantin Podrevsky, levou a música as paradas de sucesso no Kremlin. Versão em cima de versão, a canção chegou aos EUA, onde foi regravada com o título de “Those were the days”, e ficou mais famosa na interpretação de Mary Hopkin, protegidinha de Paul McCartney. E chega, nos anos 80, ao Show de Calouros, contrariando aquele papo de que Deus não joga dados.

Quando escuto essa música, dá vontade de… anunciar qualquer coisa que estiver no meu campo de visão fazendo lá lá lá lá lá lá lá lá…

2 John Charles Fiddy

Quem é esse cara? É um guitarrista e compositor inglês, nascido em 1944, que aos pouquinhos foi se especializando em compor trilhas para cinema, séries de TV e anúncios comerciais, além de fazer parte, por um tempo, da banda que acompanhava Olívia Newton John, aquela que mostrou pra gente onde ficava Xanadu (trocadilho intencional).

E o que esse cara fez de tão legal assim? 70% de todas as músicas que tocam no Chaves são dele – incluindo daquele episódio em que ficam chamando o Chaves de “ladrão!” “ladrão”. Desculpa, escutem a música aí porque eu me emocionei e vou lavar o rosto. 

E Chaves, vocês sabem, é uma co-produção Brasil e México: eles atuaram por lá e nós fizemos o roteiro com a dublagem aqui – e colocamos trilha sonora. Só Deus sabe se Fiddy tem noção do quanto suas composições são famosas no Brasil, mas espero mesmo que, em reconhecimento, ele também tenha sido convidado para a festa dos Pires Cavalcanti.

Quando escuto qualquer dessas músicas, dá vontade de… perguntar chapéu, sapato ou roupa usada, quem tem. Menos aquele cacete de música triste. Aquela dá vontade de tomar estricnina.

1 Julio Posadas Gilabert 

Quem é esse cara? É um DJ espanhol que atende por pelo menos vinte nomes diferentes e, pelo pouquinho que existe disponível sobre ele na internet, é um dos principais produtores de música eletrônica na Espanha, não que alguém se importe com música eletrônica.

E o que esse cara fez de tão legal assim? com uma composição sua, fez parte da melhor amiga que a puberdade pode ter nos anos 90: a Banheira do Gugu.

Antes de mais nada, queria contar a vocês que deu um trabalho DO DEMÔNIO descobrir que foi esse cara quem compôs “Eo eo eo eo”. Na internet toda, a música é creditada a uma banda(?) chamada Dream Water, que simplesmente não existe. Perdido, consegui uma evidência nova: na contracapa do CD Domingo Legal Dance Volume I – vejam o que não faço pelo Puxa! – a música é creditada a um “J Posadas” que, para ajudar, é o nome de um líder trotskista argentino. Aí, no site da Abramus, deu para descobrir que a canção foi registrada no Brasil com a composição de “Julio Posadas Gilabert”. Só que Julio Posadas não me pareceu muito feliz com o que fizeram com sua música por aqui, porque não há nenhum registro dele no Google associado com Dream Water, banheira, Luiza Ambiel ou dez sabonetes.

Quando escuto essa música, dá vontade de… gritar “valendo!’ pra ver se alguém se anima a pegar dez qualquer coisa, nem que sejam dez tampinhas num balde com água.

Vinício dos Santos é um renomado ninguém. Volta e meia é confundido com outras pessoas, as quais ele só pode pedir desculpas e desejar melhoras. É o idealizador e quem mais posta no Puxa Cachorra!, o que revela muito sobre ele, e ainda mais sobre os outros membros. Escreve também para o Coisas Crônicas , o Na saída do Cinema , o Ensination e é autor do romance Explo: Pedra e Picaretagem.
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